Bicicletas II !

Como já disse atrás, tantas idas a Pardilhó fizeram músculo! Tinha chegado a altura de tentar voos mais altos. Não me lembro de o termos tentado muitas vezes, de forma a gradualmente adquirirmos a estaleca para tais cometimentos. Lembro-me então de apenas uma viagem até Espinho e mais tarde outra até ao Porto! Partindo de Estarreja em bicicletas pesadas e sem aerodinâmica, com quinze anos, estrada de paralelos fora, alcançámos os destinos a que nos propusemos. Lembro-me ainda de não termos ido a Pardilhó nos dias seguintes!

Bicicletas !

Começámos, lentamente, a substituir os jogos de futebol diários pelos passeios de bicicleta. Afinal de contas, o ciclismo era na altura, o desporto mais popular em Portugal e fazendo jus a isso, começámos a pedalar todos os dias e cada vez maiores distâncias. Só que éramos um bocado previsíveis nos destinos que escolhíamos, uma vez que íamos sempre parar a Pardilhó! A verdadeira razão foi estritamente hormonal e incluía naturalmente a passagem pela casa de uma certa rapariga que para nosso contentamento ou aparecia à janela ou passava pelo jardim fingindo regá-lo apesar de ter chovido toda a noite anterior. Como ficar por ali à espera não fazia o nosso feitio, regressávamos a Estarreja várias vezes no mesmo dia e também como éramos quatro, o grito Vamos a Pardilhó fazia-se ouvir com frequência. Parece que não mas Pardilhó fica a sete quilómetros e fazer isto várias vezes por dia dá músculo. Para além disso, tínhamos as nossas competições em contra-relógio, onde partíamos com diferenças de cinco minutos entre nós e para variar nos dirigíamos ao centro de Pardilhó, onde dávamos a volta regressando rapidamente a Estarreja. Nunca ultrapassei o meu adversário da frente, nem me lembro de ter sido ultrapassado por alguém, mas aqui e agora juro que dei sempre a volta ao largo em Pardilhó conforme o estabelecido. O vencedor era sempre o mesmo e não é justo questionar agora as suas vitórias. Estas competições exigiam muito da nossa honestidade pois o controle era feito por nós próprios e os nossos relógios não eram cronómetros. Falo pelo meu CAUNY, prenda por ter passado o exame da 4ª classe e mais os dois exames de admissão: ao liceu e à escola industrial. Anos mais tarde, numa outra fase da minha vida, mais junto ao rio e às bateiras, deixei-o cair num poço onde ele apodreceu para sempre.

Gaia, meu amor!

Aqui, onde competência autarca parece rimar com relações de parentesco, foi fechado um negócio para renovação da frota automóvel. Segundo a VISÃO o seu valor é superior a 1,2 milhões de euros e envolve 95 veículos da Toyota. Há depois mais uns trocados e os carritos vão ficar no sistema de aluguer e é preciso pagar aquilo que geralmente aparece em letras muito pequeninas. A Câmara de Gaia é uma das mais endividadas do país. Aqui está uma notícia que dá força para trabalhar! Pagamos tudo mais caro mas ninguém pode dizer que não sabe para onde vai o nosso dinheirinho!

Gosto de ti, Manel!

Primeiro porque és franco e aberto revelando o que já era evidente mas ninguém queria admitir: a crise tinha acabado. Depois demonstraste que também és humano e bem português quando te apanharam a 180 km/h numa estrada qualquer. Aqui a nossa solidariedade só não pode ser total porque as nossas carripanas, há muito que já deviam ter sido trocadas e dificilmente alcançam tal velocidade. Por último, o teu projecto de atracção de capitais chineses para investimento em Portugal surpreendeu tudo e todos. Ao revelares lá tão longe, que somos uns pé-descalços e que ganhamos mal como o caraças, aguçaste o apetite a muito empresário chinês! Fico ansioso porque a minha freguesia precisa de uma loja do chinês e porque não sonhar mais alto, um restaurante daqueles de comida muito salgada. Além disso, anda muita canalha na escola que não merece e uma fábrica de confecções resolvia o assunto num instante. Se aparecer investidor o sítio não é problema pois há muita garagem que só serve para guardar lenha. É por governantes como tu que só me dá vontade de trabalhar!